Um grupo de colegas do Departamento de Filosofia teve a idéia, que me tocou profundamente, de organizar um evento em minha homenagem quando souberam da minha decisão de aposentar-me.
Expressei-lhes, então, o meu desejo que essa homenagem, que muito me honraria, pudesse tomar a forma de um Colóquio em que colegas de diferentes universidades expusessem suas pesquisas e, na medida do possível e do seu interesse, as relacionassem com as que eu havia realizado ao longo da minha carreira. O Departamento apoiou a realização desse evento, que ocorreu na Universidade de Brasília em junho de 2017.
Na abertura do Colóquio, relatei o que motivara a escolha do título “O homem e seus mundos: perspectivas filosóficas e científicas”. Eu queria colocar em relevo a distinção entre um ‘mundo interno’ (da mente; da experiência, etc.) e um ‘mundo externo’ (físico/biológico, social, cultural/simbólico, etc.), bem como discutir a tese que alguns aspectos desses mundos pudessem ser exclusiva, ou caracteristicamente, humanos.
Essas idéias me vieram à mente quando recordei o título de uma coletânea que folheara no Centro de Filosofia da Ciência da Universidade de Pittsburgh, quando lá realizei pesquisas nos idos dos anos 1980: Cosmos of Science: Philosophical Problems of the Internal and External Worlds, 1998. Esse título havia submergido fazia décadas no meu inconsciente mas aflorou quando buscava um para o Colóquio!
Trata-se de uma coleção de ensaios organizada por John Earman e John Norton em homenagem ao saudoso filósofo da ciência Adolph Grunbaum, pessoas com quem tive contato bastante próximo à época. O título dessa coletânea aponta para a existência de uma pluralidade de “mundos”, e sugeriu-me o argumento de que se esse ‘Cosmos’ é da ciência então é um produto humano, portanto não algo completamente depurado dos elementos subjetivos associados a uma perspectiva: a humana. Defendo que essa subjetividade, entretanto, não é absoluta na medida em que se trata da perspectiva de uma espécie, e não a de um indivíduo particular. Enfim, exibe-se aí toda uma pletora de questões, controversas sem dúvida, mas que poderiam gerar uma discussão produtiva.
O HOMEM E SEUS MUNDOS:
PERSPECTIVAS FILOSÓFICAS E CIENTÍFICAS
Encontro em torno do percurso acadêmico do Prof. Paulo C. Abrantes
Universidade de Brasília, 28 a 30 de junho de 2017
Local: Auditório 4 do Instituto de Ciências Biológicas
PROGRAMA
4ª feira (noite-28/6)
19hs – Abertura de boas-vindas: Profs. Samuel Simon e Agnaldo C. Portugal (UnB-Departamento de Filosofia)
19:30hs – Prof. Paulo C. Abrantes (UnB- Departamento de Filosofia), “Um percurso acadêmico”
20:30hs – Mesa-redonda: “As relações entre História da Ciência e Filosofia da Ciência”
Profs. Samuel Simon (UnB- Departamento de Filosofia), Fábio Leite (UnB- Departamento de Filosofia) e Mauro Condé (UFMG– Departamento de História)
Lançamento do dossiê ‘Pierre Duhem’- periódico Transversal
5ª feira (29/6-manhã)
9 hs – Prof. Valter A. Bezerra (USP- Departamento de Filosofia), “Por que o pluralismo interessa à epistemologia?”
10hs – Prof. Rogério Severo (UFRGS-Departamento de Filosofia) , “Estruturas linguísticas, paradigmas e holismo”
11hs – Intervalo
11:30hs – Prof. Frederik M. dos Santos (UFRB- Centro de Ciência e Tecnologia em Energia e Sustentabilidade), “Uma definição integradora do conceito de informação: aproximações deaconianas”
12:30 hs – Almoço
5ª feira (29/6-tarde)
14hs – Prof. Guillermo Folguera (Universidad de Buenos Aires- Facultad de Ciencias Exactas y Naturales, Grupo de Filosofía de la Biología-CONICET), “Una Biología, muchas Biologías: ¿estamos frente a un proceso de fragmentación en la Biología?”
15hs – Profa. Rosana Tidon (UnB- Laboratório de Biologia Evolutiva – IB/GEM): “Sistemas de herança: as múltiplas dimensões da Evolução”
16hs – Intervalo
16:30hs Prof. Pedro J. T. da Glória (USP- Laboratório de Estudos Evolutivos e Ecológicos Humanos), “A trajetória evolutiva humana contada pelos fósseis”
17:30hs – Prof. Mauro L. Condé (UFMG- Departamento de História), “Mutações no estilo de pensamento: Ludwik Fleck e o modelo biológico na historiografia da ciência”
6ª feira (30/6-manhã)
9:00 hs – Mesa-redonda: “Filosofia, Biologia e Ciências Sociais”
Profs. Cláudio Reis (UnB-Departamento de Filosofia) e Alexandre Araújo Costa (UnB-Faculdade de Direito)
10hs – Prof. André Leclerc (UnB- Departamento de Filosofia), “Causação na biologia e na psicologia”
11hs – Intervalo
11:30hs – Profa. Diana Pérez (Universidad de Buenos Aires- Departamento de Filosofia e CONICET), “La atribución mental y la segunda persona”
12:30 hs- Almoço
6ª feira (30/6-tarde)
14:00 hs- Prof. Antonio Diéguez (Universidad de Málaga-Departamento de Filosofia), “La epistemología evolucionista y el debate sobre el realismo” (teleconferência)
15:30 hs- Prof. Agnaldo C. Portugal (UnB- Departamento de Filosofia), “Paulo C. Abrantes e Alvin Plantinga em torno do naturalismo: pelo menos dois modos de fazer filosofia da ciência”
17:00 hs – Encerramento
Eu e os organizadores do evento convidamos os palestrantes para publicarem artigos a partir das palestras que apresentaram no evento, se assim o desejassem. A adesão foi praticamente unâmine, o editor da Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea encampou o projeto e a publicação tornou-se realidade em julho de 2018 (volume 6, número 1 desse periódico).
A publicação desse volume deixou-me plenamente satisfeito e ainda mais grato aos organizadores, pelo fato da minha aposentadoria ter ensejado não somente os debates que ocorreram durante o evento, mas também a sua difusão para um público amplo, através de uma publicação de elevado nível acadêmico.