Paulo Abrantes - Filosofia

Atividades de pesquisa recentes

Filosofia e Biologia

No artigo Filosofia e Biologia: incursões (2020) analiso, com o foco particular na biologia, as várias modalidades com que podem dar-se as relações entre filosofia e ciência. Indico que o modo como o trabalho do filósofo da ciência é normalmente visto- como o de desenvolver um discurso de segunda ordem a respeito da(s) ciência(s), em particular investigando os problemas conceituais colocados por estas últimas-, é somente uma dessas modalidades. Sugiro, inclusive, que a filosofia pode aspirar a ter um maior protagonismo nas suas relações com o conhecimento produzido pelos biólogos e ilustro como ele pode dar-se no campo da biologia.  

Coletânea reunindo trabalhos apresentados em evento

Em 2017, pela iniciativa generosa de alguns colegas do Departamento de Filosofia da UnB foi organizado um evento em minha homenagem com a participação de pesquisadores que muito prezo e com os quais tive o privilégio de trabalhar em diferentes oportunidades. Dei ao evento o título: “O homem e seus mundos: perspectivas filosóficas e científicas”. Quis, com esse título, colocar em relevo a distinção entre um ‘mundo interno’ (da mente; da experiência, etc.) e um ‘mundo externo’ (físico/biológico, social, cultural/simbólico, etc.), bem como discutir a tese que alguns aspectos desses mundos pudessem ser, exclusiva ou caracteristicamente, humanos.

Em 2018, foi publicado um número da Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea reunindo as palestras dadas no referido evento. Escrevi para esse número o artigo ‘Uma mente embebida na cultura’ em que pretendo sintetizar as pesquisas que vinha fazendo nos anos precedentes (mais informações sobre o evento e esta publicação podem ser obtidas nesta minha página pessoal, em ‘Eventos’). Este artigo complementará, sem dúvida, a tentativa de síntese que empreendo aqui.

Peço ao leitor que me seguiu até este ponto uma dose adicional de benevolência para que eu possa citar um trecho da Conclusão desse artigo, que indica algumas das teses que me são caras e que compareceram em diferentes contextos deste Memorial:

“Espero ter devidamente qualificado em que sentido o mundo da cultura é um mundo especificamente humano, não somente no sentido de moldar cada um de nós no curto tempo ontogenético da nossa existência- que se desenrola nos nichos construídos no tempo histórico de nações e civilizações, uma tese bastante evidente e consensual-, mas que a condição humana foi moldada pela cultura no tempo histórico profundo da filogenia do Homo sapiens e de outras espécies hominíneas com as quais compartilhamos ancestrais comuns, perpassando dezenas de milhares de gerações. De modo menos ortodoxo, pode-se dizer que a evolução da espécie humana desenrola-se num único tempo histórico, que engloba o desenvolvimento de cada um de nós e a dinâmica das populações, numa sinergia permanente envolvendo processos que vão dos genes aos grupos passando pelos indivíduos, e que se retroalimentam. Esses processos embricados ocorrem em vários níveis ontológicos simultaneamente, que distinguimos para poder compreendê-los com a finitude das nossas mentes (que são produtos desses mesmos processos!), e para os submeter aos procedimentos analíticos da filosofia e das ciências, na esperança de gerar algum conhecimento a esse respeito, para além da estupefação e do maravilhamento de que nos falou, alguma vez, Aristóteles. Para tanto, partimos de imagens de natureza humana enraizadas na nossa experiência ordinária, ainda que incertas e pouco nítidas, e por vezes conseguimos melhor precisá-las e, eventualmente, revê-las gerando conhecimento comum e conhecimento científico, que se nutrem mutualmente.”

Para mais informações, ir para a página Eventos.

Evolução Cultural

O processo de evolução dos seres vivos por seleção natural pode servir de modelo para explicar outros processos, por vezes muito distantes da biologia. Na minha pesquisa mostrei como isso pode ocorrer, por exemplo, em epistemologia, com as chamadas epistemologias evolucionistas.

Em 2021 submeti um artigo sobre como essa extrapolação pode ser frutífera também para abordar a dinâmica cultural. Ressalto que o tópico da evolução cultural não deve ser confundido, entretanto, com o da evolução da cultura e, tampouco, com o da coevolução gene-cultura, a que me dediquei em outros artigos.