O meu trabalho filosófico tem sido marcado por uma orientação naturalista, desde as pesquisas que fiz inicialmente em história da ciência e, mais tarde, de modo mais consciente. Eu diria que essa orientação já havia sido despertada pelo contato que tive com filósofos da ciência historicistas durante o mestrado, como apontei anteriormente. O historicismo em filosofia da ciência pode ser considerado como um tipo de naturalismo. Defendi isso no artigo ‘Naturalizando a epistemologia’, que integra a coletânea Epistemologia e Cognição por mim organizada (que reúne os trabalhos apresentados no Simpósio, com o mesmo título, que organizei na UnB em 1992).[8]
Se tivesse que apontar filósofos e textos que me influenciaram de modo especial desde a época do Simpósio, no sentido de uma postura em metafilosofia, eu destacaria Quine, nos seus clássicos ‘Os dois dogmas do empirismo’ (1961) e ‘Epistemologia naturalizada’ (1987a). Os trabalhos de Dennett (1986), Paul Churchland (1979, 1992), Thagard (1988), Giere (1985, 1988, 1991), Kornblith (1987) e A. Goldman (1985a, 1985b, 1986) também foram de grande importância para eu definir uma postura naturalista. O artigo ‘The naturalists return’ de Philip Kitcher (um filósofo da biologia), publicado em 1992 em The Philosophical Review, ajudou-me muito, pela sua abrangência, a mapear o campo naturalista.
Em diversas oportunidades, detive-me em esclarecer o naturalismo enquanto orientação metafilosófica e em distinguir suas diversas variantes (já que não há uma, mas várias orientações naturalistas). Além do artigo de 1992, já mencionado, editei em 1998 um número especial dos Cadernos de História e de Filosofia da Ciência (UNICAMP) dedicado ao naturalismo epistemológico, que contém uma introdução minha sobre o tema. Eu e o meu então colega no Departamento de Filosofia da UnB, Hilan Bensusan, publicamos em 2003 uma série de cartas que trocamos em torno do(s) naturalismo(s) em metafilosofia (seguindo o modelo de uma disputatio): eu me coloco na posição de um defensor de certas variantes do naturalismo, e ele de um crítico. Escrevi um artigo, publicado em 2004, sobre o ‘Naturalismo em filosofia da mente’ em que aplico, a esta área da filosofia, a categorização proposta por A. Goldman (1994) de diferentes tipos de naturalismo em epistemologia. Fiquei bastante satisfeito com o resultado da extensão, para a filosofia da mente, de um debate metafilosófico que estava restrito, em Goldman, à epistemologia. Ainda em 2004, continuei explorando essa temática no artigo ‘Metafísica e ciência: o caso da filosofia da mente’. Nesse ponto, encerrei (provisoriamente, como transparecerá adiante) o meu envolvimento explícito com discussões em metafilosofia.