Paulo Abrantes - Filosofia

Notas

[1] Eu viria a forjar esse conceito anos depois, escrevendo o meu livro publicado em 1998.

[2] Por exemplo, eu detectava, à época, um indutivismo ingênuo na montagem de experimentos no laboratório e no uso que era feito de seus resultados em sala de aula, em relação com a construção e o teste de hipóteses e teorias.

[3] Lembro-me que fiz um trabalho final, no primeiro curso, sobre o modo como A. Comte concebia a história das ciências.

[4] Um dos livros cuja leitura havia apreciado muito quando estava fazendo a minha dissertação de DEA foi o da física e historiadora Marie A. Tonnelat, Histoire des théories de l’éther. Ela aceitou, à época, o meu pedido para ser minha orientadora no doutorado, mas infelizmente faleceu pouco tempo depois. Tive que escolher um outro orientador no Institut d’Histoire des Sciences et des Téchniques, vinculado ao Departamento de Filosofia (U.E.R. de Philosophie) da Sorbonne (Universidade de Paris I), a filósofa Suzanne Bachelard.

[5] A noção de themata de G. Holton- que eu havia lido por seus relevantes estudos sobre a história da teoria da relatividade- em especial Thematic analysis of scientific thought e Scientific Imagination– provavelmente antecipou aspectos do que eu hoje entendo por imagem de ciência e por imagem de natureza, conceitos que viria a articular posteriormente. Eu já conhecia Holton pelo seu envolvimento em projetos pedagógicos, como o chamado ‘projeto Harvard’, visando a aplicação da história da ciência ao ensino de ciência. 

[6] Doravante abreviarei este título para Imagens.

[7] A primeira edição de Imagens se restringia a estudos em história da física, da astronomia e da cosmologia de modo geral.

[8] Posteriormente, explorei mais o historicismo e incorporei minhas reflexões a respeito do naturalismo em filosofia da ciência (sobretudo as concepções defendidas por Laudan e Rosenberg) no livro Método e Ciência: uma abordagem filosófica, publicado em 2013, do qual falarei mais adiante.

[9] Nesse contexto, não posso deixar de mencionar outros três filósofos da ciência que, em diversos momentos e de diferentes modos, marcaram o meu trabalho: N. R. Hanson, R. Harré e S. Toulmin. Este último foi especialmente importante por suas tentativas de adotar uma abordagem explicitamente evolucionista no tratamento de questões em epistemologia. Aprendi muito com Harré a respeito do uso de diferentes tipos de modelos em ciência. Hanson é uma referência fundamental para todos os que combinam trabalho filosófico e histórico a respeito da atividade científica e foi um precursor, nos anos 1950, das críticas à chamada ‘tradição herdada’ (received view) em filosofia da ciência, que se avolumaram na década seguinte.

[10] Infelizmente, a tradução para o Espanhol do artigo “Simulação e realidade” não me foi enviada para revisão prévia, como é de praxe, e o artigo foi publicado com muitos erros. Incorporei esse trabalho, com adaptações, no meu livro Método e Ciência: uma abordagem filosófica.

[11] Esta publicação – que situo na mesma linhagem de artigos em filosofia (geral) da ciência que publiquei como resultado da minha pesquisa no Centro de Pittsburgh -, foi incorporada no capítulo 12 do meu livro Método e Ciência: uma abordagem filosófica.

[12] Endereço: http://www.ephilosopher.com/010101/symposia/symposia.htm. Página acessada em 21/05/2001.

[13] Pode-se defender que o problema mente-corpo, um problema fundamental em ontologia, seja o problema central dessa área. Os problemas epistemológico (o chamado problema das outras mentes) e o metodológico são relativamente secundários. No meu trabalho anterior em história da ciência, dei muita ênfase às imagens de natureza, que consistem em metafísicas assistemáticas que guiam o trabalho dos cientistas, de modo semelhante ao papel que desempenha a metafísica nos programas de pesquisa lakatosianos. Nesse sentido, o meu interesse por metafísica (ou, mais precisamente, por filosofia da natureza) já estava latente desde as minhas pesquisas em história da ciência.

[14] Assinalo, de passagem, que o FIL provavelmente foi o primeiro departamento de filosofia no Brasil a oferecer essa disciplina no nível de graduação.

[15] O tipo de relação que o meu trabalho estabelecerá com a biologia será distinta, contudo, da que tivera antes com as ciências cognitivas, como ficará claro adiante.

[16] Salvo indicação em contrário, os trechos entre aspas são retirados dos projetos de pesquisa que submeti ao CNPq.

[17] Não quero me deter aqui na distinção entre uma linguagem metafórica e uma linguagem literal, que não é tão nítida quanto parece à primeira vista. Discuto isso no meu artigo de 1999, e volto a mencionar esta distinção no cap. 13 do meu livro Método e Ciência: uma abordagem filosófica.

[18] Quero frisar que o termo ‘evolução’ está sendo sempre empregado, neste Memorial, num sentido estritamente darwinista (ou selecionista), e nunca no sentido vulgar de um simples ‘desenvolvimento’, ou de uma dinâmica inespecífica. Marcos Toscano, como assinalei, construiu um modelo selecionista abstrato e o instanciou na dinâmica tecnológica; uma modelagem semelhante pode ser tentada no tocante à(s) dinâmica(s) de outras dimensões da cultura.

[19] Há mais de um conceito de função empregado em biologia, o que complica as coisas, mas não entro aqui nesses detalhes, abordados por Karla Chediak (2018).

[20] Incorporei os resultados dessa investigação no cap. 13 do meu livro Método e Ciência: uma abordagem filosófica, do qual tratarei adiante.

[21] Como adiantei acima, essa temática já fora objeto da dissertação do Marcos Toscano, defendida em 2009, embora ela estivesse restrita ao campo da evolução tecnológica.

[22] As explicações clássicas da evolução da cooperação (ou do comportamento altruísta), como a seleção de parentesco e o altruísmo recíproco, só requerem que a seleção atue em níveis inferiores ao do grupo: aqueles do organismo (ou agente) e do gene.

[23] A distinção entre possuir cultura e ser capaz de acumulá-la é fundamental para essa discussão, e a aprofundo em vários artigos, como ressalto no exercício retrospectivo que fiz em Abrantes (2018a).

[24] Eu viria a incorporar trechos desse artigo no capítulo 12 do livro Método e Ciência: uma abordagem filosófica, para ilustrar o uso de modelos matemáticos e de simulações nas ciências.

[25] O livro de Godfrey-Smith viria a ganhar o prêmio Lakatos em 2010. Eu não pretendia trabalhar sobre o tópico das transições no projeto que apresentei ao CNPq para o período 2010-13, pois o havia enviado a essa agência antes de iniciar a leitura do livro. Essa pesquisa está, contudo, registrada no projeto que submeti em 2014.

[26] No artigo para a Revista Aurora exponho o “dilema” da seguinte forma: “… se as vantagens de uma cultura cumulativa são tão evidentes (pelo fato de promover uma adaptação mais rápida a uma grande diversidade de ambientes), porque ela não evoluiu, até onde sabemos, em outras linhagens além da nossa…?”

[27] “Algumas ‘grandes’ transições evolutivas foram descritas como transições em individualidade. Nessa descrição, a seleção natural pode gerar novos tipos de indivíduos cuja dinâmica evolutiva tem lugar de um modo novo. Usando uma categorização proposta por Godfrey-Smith (2009), essa transição é completamente realizada quando uma nova  população Darwiniana ‘paradigmática’ emerge. Neste artigo, eu investigo se em algum pondo da evolução na linhagem hominínea uma transição desse tipo poderia ter ocorrido, assumindo algumas das  teses da teoria da dupla herança, especialmente sobre o papel desempenhado pelo viés conformista. Eu argumento que Godfrey-Smith não percebe em seu livro um cenário no qual o conformismo é uma das pré-condições para uma transição em direção a uma população Darwiniana de grupos culturais”.

[28] Para detalhes a respeito dessa representação, ver Abrantes (2011e; 2013a).

[29] “Eu devo enfatizar de imediato que não estou me importando, aqui, com um projeto metodológico, a saber, o de avaliar o quão frutífero pode ser a aplicação de modelos biológicos para explicar a dinâmica cultural. Eu estou perseguindo, em vez disso, um programa em filosofia da natureza: como humanos, e a cultura especificamente, se encaixam em nosso quadro de outras transições em individualidade”.

[30] O foco de Godfrey-Smith em seu artigo de 2012 continua sendo não a evolução de grupos humanos, enquanto possíveis indivíduos, mas a dinâmica das variantes culturais.

[31] Okasha (2006) constitui uma obra de referência para a temática da seleção em múltiplos níveis.

[32] “Neste livro eu trato processos Darwinistas envolvendo crescimento e persistência sem reprodução como casos marginais (…) Portanto, a ‘seleção de grupos culturais’ de um tipo significativo requer reprodução diferencial, e não somente persistência diferencial, embora a fronteira entre esses seja vaga”.

[33] Em Abrantes (2018) aponto nessa direção. Recentemente arrisquei-me a apresentar uma comunicação com o título “Mind and culture in an evolutionary perspective” no congresso Protolang6, realizado na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, em setembro de 2019, em que a evolução da linguagem esteve em pauta.

[34] Há casos também em que a ciência é usada para refletir sobre a própria ciência, ou seja, que é auto-aplicada, como ilustra o artigo que publiquei juntamente com Charbel El-Hani em 2009.