Desde que a minha tia Carmem, irmã do meu avô Francisco, ambos portugueses, contou-me, eu ainda adolescente, que tinha antepassados que haviam sido ‘luthiers’ – os construtores de instrumentos de corda são chamados de ‘violeiros’ em Portugal -, tento resgatar a história desses artesãos de Vila Nova de Tazem, vilarejo situado na Serra da Estrela, e que estavam em atividade no final do séc. XIX e início do séc. XX.
O meu próprio avô deve ter aprendido essa arte com o seu pai e seu tio, e se valido dela para conseguir um emprego na ‘Guitarra de Prata’, quando chegou, ainda jovem, ao Brasil. A Guitarra de Prata era uma loja de instrumentos musicais que ficava na rua da Carioca, no centro do Rio de Janeiro, e fechou, lamentavelmente, faz alguns anos. Com isso apagou-se parte dessa história. O Francisco nunca mais regressou a Portugal e trabalhou na Guitarra de Prata toda a sua vida.
Quando soube que havia em Brasília um luthier, o Eduardo Brito, que dava aulas, quis ter essa experiência e construí, na sua oficina, um primeiro violão, concluído em 2006. Essa experiência fabulosa a tive em paralelo com o trabalho de recuperar informações a respeito desses meus antepassados, que vinha fazendo há anos, de forma mais ou menos sistemática. Anos depois, em 2015, quis renovar a experiência e construí, ainda como aluno do Eduardo, um segundo violão. Nessa mesma época, restaurei uma guitarra portuguesa feita pelo meu tio-bisavô António, que havia conseguido adquirir mas em péssimo estado. Hoje ela pode, novamente, ressoar.