O Simpósio que havia organizado em 1992 (e que mencionei logo no início deste Memorial) marcou o despertar do meu interesse pelas ciências cognitivas e, posteriormente, motivou o meu envolvimento com a filosofia da mente.
J. Kim, em uma entrevista que concedeu à revista Ephilosopher[12], em resposta à pergunta de como ele chegou à filosofia da mente, distinguiu dois percursos típicos: a) o daqueles pesquisadores que chegam a essa área a partir de um interesse pelas ciências cognitivas, pela ciência da computação e pela neurobiologia; b) e o percurso daqueles que partem da metafísica. Eu me incluo entre os que fizeram o primeiro percurso. Foi, de fato, posterior o meu interesse direto por questões de metafísica geral, suscitado, na verdade, pelo meu estudo e ensino na área de filosofia da mente.[13] Percebe-se, claramente aliás, um interesse crescente pela metafísica nas últimas décadas, possivelmente como consequência da revalorização das pesquisas em filosofia da mente após a chamada ‘revolução cognitivista’ dos anos 1960-70.
Iniciei um estudo sistemático da literatura em filosofia da mente ainda durante o pós-doutorado em Pittsburgh, paralelamente ao meu tópico pesquisa principal que, como descrevi anteriormente, era outro. Lembro-me que J. McDowell estava oferecendo, na Universidade de Pittsburgh, um curso de graduação em filosofia da mente, e o assisti como ouvinte. Ele adotava a excelente coletânea de D. Rosenthal, The nature of mind, que reúne trabalhos clássicos na área, e os li avidamente. Também estudei, ainda em Pittsburgh, o livro introdutório de J. Kim, Philosophy of Mind, que acabara de ser publicado (1996). Graças a esses estudos, após retornar ao Brasil, em 1996, senti-me em condições de oferecer, regularmente, a disciplina filosofia da mente no curso de graduação do Departamento de Filosofia da UnB, atendendo também a uma demanda de estudantes de outros cursos, como os de computação, de psicologia, etc. O livro de Kim passou a ser a principal referência das notas que elaborei para esses cursos, além dos textos clássicos que havia lido na coletânea de Rosenthal.[14]
Cheguei a publicar alguns artigos em filosofia da mente- que, em seu recorte tradicional, nunca constituiu uma área central das minhas pesquisas, embora tenha tido um grande papel na minha formação como filósofo- e cheguei a orientar dissertações nessa área. Destaco, de modo especial, o artigo ‘Funcionalismo e Causação Mental’, que escrevi com Felipe Amaral nos idos de 2002, meu orientando à época e hoje professor no mesmo Departamento a que estive vinculado. Uma outra orientanda minha, Juliana de Orione, hoje professora na Universidade Estadual da Bahia, fez uma dissertação de graduação, e em seguida um mestrado sob minha orientação, voltado para a temática da consciência. Temos um artigo publicado sobre esse assunto espinhoso (Fagundes & Abrantes, 2014). Eu e Juliana traduzimos para o português o clássico de T. Nagel, ‘What is it like to be a bat?’. Escrevi uma Introdução a esse artigo, em que me detenho na filosofia de Nagel, situando-a no espectro de posições, na contemporaneidade, sobre o problema mente-corpo. A tradução do artigo de Nagel juntamente com a minha introdução foram publicadas em 2005 nos Cadernos de História e de Filosofia da Ciência da UNICAMP.